terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ele existe mas se esconde

Ela te ama e te espera
na cama, acordada
vira de um lado pro outro
Ela te espera

A filha
dorme
achando que o pai não existe

Ele existe
mas se esconde
De quem?
Dele mesmo

Mas mesmo assim
ela ainda te ama
E as pessoas dizem
"que boba ela é"

Ela insiste
no amor
Mas um dia 
esse amor há de morrer

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Lugares Perdidos

Estávamos sentados debaixo da mangueira e ele me perguntou o que era um lugar perdido. Eu disse que haviam vários lugares perdidos, aqueles partidos, outros escondidos, uns agradáveis, outros quase que inexistentes, mas muito existentes e persistentes dentro de nós mesmos. Ele então olhou pra mim e disse que vivia em um lugar perdido. Eu sabia disso, sempre soube, mas nunca quis dizer que sabia, pois pra mim ele era mais achado que perdido. E eu o queria ter realmente como achado, mas ele não era.
... E um lugar perdido que eu sempre quis achar, mas se eu o achasse ele perderia seu encanto. O segredo era nunca achá-lo. Mas sempre estar na busca de um dia encontrá-lo, mesmo que no fundo eu saiba que nunca vou encontrá-lo, porque sua grande magia é ser perdido, perdido em minha mente, perdido no mundo, sem casa, viajando, um não-lugar, uma não-pessoa, uma não-palavra, uma não-música. Um meio termo em minha mente, lá e cá. Ele perguntou se isso era a dúvida. Eu pensei bem e disse que não era, porque eu tinha a mais pura certeza de que onde estávamos era um lugar perdido. Então, foi ai que ele me colocou na parede dizendo que minha mente me engana e que "lugares perdidos são os lugares mais achados, mais puros e profundos, porém podem ser muito perigosos, dependendo do lugar perdido". De certa maneira, acabei concordando com ele. O interroguei então se o lugar perdido é o lugar achado, o lugar achado seria o que? Ele disse que o lugar achado nunca pode ser perdido, porque ele é duro, nada maleável, mas ao mesmo tempo efêmero, para ele. Depois me disse: "Bem, não quero confundí-la, há lugares perdidos e lugares perdidos, mas o lugar achado-real pode ser totalmente modificado pelos lugares perdidos por onde você passa e isso é o perigo ou a salvação". Chorei. Estava frágil. Ele disse pra eu esquecer toda aquela discussão e repousasse. E pousasse, como uma ave leve. Quis sumir por um instante. Ele disse: "Você já está sumida, quanto mais se revela, mais some". Pensei... Sumir é bom e ruim. Ele parecia ler minha mente. Ele disse: "Calma, você já sumiu. Mas estou aqui. Você nunca sumirá pra mim.". Me dei conta de tudo e disse: "Eu nunca sumirei pra você, porque estamos em um lugar perdido".

Escuta

Eu me vejo
em você
e gelo
gelo
Meus olhos frios
calejados como meu coração
escorregadios como minhas mãos
derretem em lágrimas
Misericórdia!
Atende minhas mãos!
Atende minha voz!
Silêncio! Ouve,
escuta...
escuta essa voz que não se ouve
Não, não diz mais nada
só aprende a escuta-la
Sei que é difícil...
ouvir, todos ouvem
mas você tem que escuta-la.

Desligo

Desligo
uma
parte
do cérebro

Preciso desligar
senão
a
loucura
vem
atormentar

Desligar
Desligar
Eu
Tu
Nós

Desligar
Desli
Desli
Desli
Des
ssssssssssssssssss
ssssssssssssssss
ssssssssssssss
ssssssssssss
sssssssss
ssssssss
sss
s
sss
ss
s

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Eu só vivia por ele

E a cada vez que eu conhecia o ser humano
mais eu amava meu Mar
queria sua força para ainda poder viver
queria suas águas em minha pele
queria seu sal para minha benção

E ali eu soube
sim... descobria
que eu só vivia por conta do Mar
ele me mantinha viva


Marina Mapurunga, em uma noite de janeiro de 2012, desacreditando no ser humano

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Pequenina

A pequenina disse com uma voz ainda menor do que ela mesma, mas suplicando: "Fale comigo, por favor! Fale comigo!". Nada. Silêncio. A rua estava fria, já estava tarde, tudo era muito escuro. O céu estava nublado, logo logo choveria. "Fale comigo, por favor, por favor, eu gosto de você!". Silêncio. Ela sabia que ele gostava dela, mas ela precisava ouví-lo. Silêncio. Uma lágrima cai de um dos olhos dela."Fale comigo, por favor, hoje pode ser o último dia que o vejo!" Silêncio. Silêncio. Ela abaixou a cabeça, tentou tocar nas mãos dele, mas ele se virou e disse: "Todo o dia é a mesma coisa". Ela: "Não, não é. Nenhum dia é igual ao outro". Ele: "É". Mandou ela entrar. Ela entrou.
Ele foi embora, sumindo na rua escura, como todo dia.
Ela ainda o viu pela brecha da janela.
Ele se foi, sem dizer mais nada, sem nenhum semblante, indiferente talvez.
Na manhã seguinte, ela não acordou.
Seu coração ainda batia, seu sangue ainda percorria vívidamente por suas veias, sua respiração ainda era a mesma. Mas ela não acordava.
Ele foi lá. Sacudiu-a de todas as formas, mas ela não acordava.
Dizem que ela ficou presa no mundo dos sonhos.


Dedico este pequenino conto a Pequenina, quem viveu arrastados e pesados anos comigo.

Animula, Alminha ou Minha,
na Cidade de minha vida, em 20 de janeiro de 2012.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Um Brinde!

Molho bárbaro!
Bárbaro!
Copos, brindes, risadas
Gargalhadas anestesiadas

Mais um brinde!
Um brinde a riqueza, a solidão, a luxúria, a beleza
Um brinde aos anestesiados incompreendidos e solitários

E a música..
a música que eu finjo saber
que dublamos
que seguimos a letra
e concordamos
em sentir a mesma dor

Mais um brinde!
Um brinde a você, a mim, a nós, desenhos de uma sociedade dormente!



Por Marina em um domingo de Janeiro de 2012.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Amar o mar

Amar o mar
Adentrar o mar
O sal
As ondas
A areia cobrindo os pés

Amar o mar
suas águas
em minha pele
meus cabelos
minhas mãos
meu pescoço
abraço
abraço do mar

Mergulho
nas ondas que vêm
as que voltam me carregam mais ainda ao seu
coração

Amar o mar
mergulho,
um
beijo
do mar

Amar o mar
mergulho
mergulho
me ensina a nadar
em ti
me ensina a compreender tuas ondas
ah! mar


Marina numa manhã de sábado de janeiro de 2012.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Horizonte

Horizonte...
Multidão
Deserto
Coração
Solidão


Respiro
Escuro
Obscuro
Respiro
Escuro
Visão desfocada
Respiro
Escuro
Desfoque
Respiro
Escuro
Respiro
Escuro
Respiro
Respiro
Respiro
Respiro
Ar
Respiro
Respiro
Ar
Maresia
Respiro
Respiro
Ar
Maresia
Clareando
Respiro
Maresia
Sol
Sol
Sol
se pondo
Escuro
Escuro
Durmo






Marina
madrugada de 5 de Janeiro de 2012

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Quando o mar invade...



E então... a maré enche...
Enche... enche... enche...
Enche... enche...
enche... enche...
invade
Invade meu lar
com seu sal
sal sal sal sal...
que se mistura com o sal que sai
que sai
que sai de meus olhos


É preciso navegar...
desatar os nós
das cordas
presas
no lar


Lar?
Não há lar...
O lar foi invadido...
Invadido e torturado
Despedaçado
Falsos lares...
Lares são passageiros
Somos eternos navegantes
de outros tempos
desse tempo
de nenhum tempo


Vazio?


Não.
Por um instante, há o vazio
Vazio dentro de nós
Que o preenchemos de sal
sal sal sal sal sal
dos mares que invadem o lar
sal das lágrimas derramadas por nós.




Marina.
Em janeiro de 2012.